@PHDTHESIS{ 2023:1672968043, title = {Entre sombras e feixes de luz: um estudo observacional Psicanalítico no contexto da ultrassonografia pré-natal.}, year = {2023}, url = "http://tede2.unicap.br:8080/handle/tede/1857", abstract = "O exame de ultrassonografia (USG) se tornou rotineiro no acompanhamento pré-natal, considerado uma tecnologia de baixo risco, amplamente utilizado em todas as classes sociais, inclusive em áreas rurais de países da África. Apesar de ser utilizado pela Medicina de modo técnico no acompanhamento da gravidez, estimamos que a USG tenha impacto nas subjetividades, já que envolve o compartilhamento de emoções e sentimentos entre médicos e pais, sendo necessário cautela para que não se torne uma experiência ameaçadora. Pelo fato de antecipar imagens fetais, tornou-se parte do processo precoce de construção da parentalidade e abertura à filiação. Esta pesquisa qualitativa, referenciada na Psicanálise, visou analisar o campo intersubjetivo no contexto do ultrassom pré-natal como possível antecipador à construção da parentalidade e abertura à filiação. Mais especificamente, pretendemos: (1) Observar o interjogo de elementos objetivos e subjetivos no ambiente afetivo do exame de ultrassom pré-natal; (2) Desvelar indícios da construção da parentalidade e dos primórdios da relação com o feto, no contexto da observação do ultrassom pré-natal; (3) Analisar, com base no impacto das imagens da USG pré-natal e no campo intersubjetivo, o atravessamento da tecnologia na promoção de antecipações nos pais (parentalidade) e abertura à filiação. Para tanto, o trabalho de campo utilizou uma aplicação do método Bick de observação e foi dividido em dois momentos: a primeira etapa envolveu a observação, uma vez por semana, ao longo de cinco meses. No segundo momento da pesquisa, três gestantes foram acompanhadas pela observadora em seus exames de USG até a aproximação do parto. Após o fim das observações, foi realizada entrevista semiestruturada com essas três mães. Os relatos das observações e supervisões do Bick, assim como as transcrições das entrevistas, foram triangulados e analisados, o que permitiu a construção de eixos de discussão. Os resultados encontrados apontam que: a) no que remete à construção da parentalidade, alguns sentimentos das gestantes, advindos de histórias passadas, como de perdas gestacionais, foram captados pela observadora durante o exame USG, mas não valorizados ou sequer reconhecidos, mesmo sabidos, pela equipe médica; b) a imagem do feto na tela pareceu auxiliar a construção da maternidade/parentalidade, ao promover antecipações, pois ampliou o campo imaginativo das mães em torno do feto, e possivelmente dos pais, e possibilitou o asseguramento do bom desenvolvimento da gestação. Com relação aos pais, não foi possível observá-los no exame da USG, apenas acompanhar o que suas companheiras trouxeram sobre eles, pois, devido ao protocolo sanitário da Covid-19, eles foram impossibilitados de acompanhar as gestantes no exame. Também não tivemos narrativas dos pais nas entrevistas; c) o campo intersubjetivo da USG foi marcado pela complexidade de afetos que provocaram encontros e desencontros entre as subjetividades. Os encontros intersubjetivos ocorreram quando existiram trocas e diálogos férteis entre médicos e gestantes acerca das imagens fetais. Nesses momentos, pensamos que se formou uma placenta/envelope psicossocial que nutriu afetos entre a díade e sustentaram a mãe na elaboração psíquica da gestação, promovendo antecipações como via de acesso à simbolização que parecia inserir o filho na história familiar. Por outro lado, também observamos que ocorreram desencontros quando a tecnologia de USG foi utilizada apenas como recurso técnico, com a função de ensino e de construção de laudos médicos; com pouco espaço para o cuidado implicado e os aspectos subjetivos latentes. Nesses momentos, o exame parecia mais ligado ao mecânico e ao automático, sem espaço para experiência do novo e do vivo; d) o olhar da observadora, como continente das diversas projeções, como uma presença sistemática, e “companhia viva” pareceu impactar o campo intersubjetivo da USG, com base no que foi observado em atitudes das médicas e das gestantes, enquanto ressonâncias de sua postura; e) o bebê, com suas movimentações, ora cativou e convidou os presentes a olhar para si, promovendo uma possível diminuição das defesas psíquicas das médicas, com abertura para trocas afetivas, permitindo a entrada do lúdico para além do rigor da técnica. Em face disso, consideramos importante e factível a ampliação do olhar da equipe envolvida no pré-natal, incluindo a que realiza os exames de USG, para uma assistência que abra espaço ao acolhimento das ambivalências e dos significados criados em torno da construção materna/parental em sua 10 abertura à filiação. Esperamos que o diálogo interdisciplinar no pré-natal possa provocar reflexões sobre a intersubjetividade em jogo na experiência compartilhada no exame de ultrassom pré-natal, estimulando contribuições aos primórdios da família e às antecipações psíquicas criadoras de subjetividade do bebê.", publisher = {Universidade Católica de Pernambuco}, scholl = {Doutorado em Psicologia Clínica}, note = {Departamento de Pós-Graduação} }